Um dos mais festejados dogmas do "Espiritismo" brasileiro é o dogma das crianças-índigo. A crença que crianças com personalidade diferenciada pudessem ser separadas do resto da sociedade e convertida em "salvadores da humanidade" é inspirada no mito do menino Jesus e além de estar totalmente em desacordo com o Espiritismo original codificado na França.
Examinando com cuidado e atenção o referido dogma, despidos da irracional fé religiosa, percebemos que, assim como muitos dogmas do alucinado "Espiritismo" brasileiro, é totalmente absurdo e ainda serve de preconceito a jovens que se recusam a seguir a "manada" social, por ter um desenvolvimento maior no intelecto e na capacidade de entender os problemas de toda a sociedade, evoluindo o seu senso de altruísmo.
O dogma das crianças índigo não foi criado pelo "Espiritismo" brasileiro, embora tenha sido adotado pela doutrina brasileira com uma grande empolgação. Foi criada nos Estados Unidos por um então casal de místicos, Lee Caroll e Jan Tober e transformado em "tese científica" por Nancy Ann Tappe. O casal era fundador de uma seita estranha, o grupo de Iluminação Kryon (semelhante a Cientologia). Os envolvidos ganharam muito dinheiro com isso e chegaram a brigar na disputa pelos lucros.
Kryon seria um suposto "espírito" de "elevação máxima" que alertou sobre a "chegada" de "mensageiros do além" que viriam em forma de "espíritos reencarnados em jovens destinados a mudar o mundo", vindos de uma estrela chamada Alcyone (??!!), que seria o "lugar mais evoluído de todo o universo". Tais "espíritos" teriam a "missão" de "acelerar a evolução da humanidade terrena". Teriam este nome por causa da suposta tonalidade azul de sua "aura espiritual".
Uma bobagem que vai contra a doutrina original que afirma que todos os espíritos, encarnados ou não, que chegam a Terra pertencem a mesma natureza de evolução espiritual, sendo todos do nível atrasado que se espera de um planeta de Provas e de Expiação, variando apenas em sub-níveis. Mas foi uma bobagem que rendeu muito dinheiro aos três envolvidos.
DOGMA DAS "CRIANÇAS ÍNDIGO" É FORMA SUTIL DE PRECONCEITO
Divaldo Franco, que foi chamado por Herculano Pires (o verdadeiro discípulo de Kardec no Brasil) de impostor, e que gosta muito de novidades mistificadoras, por mais absurdas que sejam, adorou a ideia e importou-a para a versão brasileira da doutrina, já muito contaminada por um monte de sandices trazidas de outras crenças, religiosas ou não.
Graças ao picareta baiano, a sandice virou dogma e dos mais admirados pelos iludidos seguidores do "Espiritismo" brasileiro, que sempre priorizaram a fé cega, apesar de pensar estar sendo racionais com isso. Graças a tese das "crianças índigo", Divaldo tem ganhado muito prestigio (e dinheiro, porque não?) com palestras e mais palestras falando sobre o assunto.
É uma gigantesca irresponsabilidade de quem se apresenta como "maior líder espírita" da atualidade, a não verificar a veracidade de uma tese tão maluca e que carrega em si um requinte de crueldade. Sim, porque a tese separa um grupo de jovens com determinadas características isolando-as em um grupo e consequentemente, isolando-as de toda a humanidade.
Ao classificar as crianças que apresentam alguma habilidade acima do normal, mesmo sendo algo aparentemente positivo (tais crianças são consideradas melhores que as outras), acabam por colocar um rótulo que as afasta da sociabilização. O rótulo de "índigo" acaba por colocá-las em uma classe isolada que merece ser excluída do convívio social pela diferença que demonstram ter. Um preconceito sutil cuja crueldade não é percebida pelos seus apoiadores.
OS DANOS SOCIAIS DE SE RECEBER O RÓTULO DE "DIFERENTE"
Os seres humanos são seres sociais e tachá-las de "melhores" ou "piores" que as outras gera um imenso preconceito que traz imensos danos às pessoas rotuladas. Frequentemente, jovens com inteligência acima do normal reclamam de exclusão social e muitos, em desespero, acabam reagindo a isso da pior maneira, causando tragédias por vingança contra a sociedade que as segregou.
Independente do tipo de reação, todos os jovens rotulados por terem aspectos diferentes da "manada social" que se acha "normal", encaram uma dificuldade enorme de sociabilização, não somente pela rotulação, mas também por compreender a realidade cotidiana melhor que a maioria das pessoas, cegas intelectualmente pela hipnose gerada pelas religiões e pela mídia corporativa.
Crianças com inteligência mais desenvolvida precisam se sociabilizar, para que possam interagir com outras pessoas e compartilhar a sua compreensão de mundo. isolá-las sob um rótulo é errado e mais errado ainda é tentar transformar essa tolice em dogma religioso pseudo-científico e pior ainda por na conta de Allan Kardec, que não fez qualquer referência a isso, tendo reprovado a tese de forma decidida.
O dogma das "crianças índigo" é uma farsa e serve apenas para iludir mentes fracas, além de servir de meio de promoção e lucro financeiro a seus defensores e difusores. É uma tese que merece ser jogada no lixo e esquecida para sempre. Os que ainda a apoiam contaminam a causa espírita, inserindo algo tao absurdo e preconceituoso que nada tem a ver com a doutrina original.
Comentários
Postar um comentário