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Divaldo cresceu enganando a todos com pose de sábio estereotipado, utilizando uma linguagem prolixa que aos ouvidos dos menos racionais passa tranquilo por sabedoria científica. Mas quem é mais atento aos detalhes, sobretudo quem entende de semiologia, percebe logo de que se trata de um farsante a se aproveitar da ignorância alheia para se tornar influente.
A carência humana por uma liderança e a incapacidade (ou falta de coragem?) de analisar o discurso fez com que muitos brasileiros se apaixonassem por Divaldo Franco, acreditando ser ele o oráculo divino destinado a melhorar toda a humanidade. Enfim, o castelo encantado do poderoso oráculo da humanidade caiu feito areia seca.
Divaldo, que apesar de considerado um vidente e profeta (tal e qual outro picareta, Chico Xavier, de quem Divaldo copiou a sua mitologia), sempre errou suas previsões, agora é cobrado por ter apoiado um neo-fascista e anti-humanitário (ué, mas Divaldo não é o homem mais humanitário do mundo?) que ocupou a presidência após um festival de mentiras em sua campanha. Seu nome: Jair Bolsonaro.
O vigarista baiano fantasiado de "médium" havia dito que Bolsonaro seria bom para o país. Tempos antes desceu o cacete no Socialismo e nos ideais de esquerda e se mostrou altamente preconceituoso contra classes oprimidas, indo contra o mito de que Divaldo seria um progressista.
Os esquerdistas entraram em parafuso, pois sempre acreditavam no suposto progressismo de Divaldo, com base nos estereótipos de caridade. Embora o "Espiritismo" brasileiro nunca tivesse ido além do reles assistencialismo. A doutrina nem sequer tentou tirar os pobres de sua condição. Até porque, havendo pobres, havia também mais chances de converter pessoas para aumentar o "rebanho".
Apesar do "Espiritismo" brasileiro posar de doutrina racional, Divaldo nunca questionou os dogmas do Catolicismo medieval. Usava nomes de intelectuais em suas palestras e textos mais para criar uma falsa associação do que para sugerir uma referência. Com a sua voz de padre, com um sotaque estranho (seus admiradores atribuem caráter divino à sua fala peculiar), Divaldo sempre foi um igrejeiro que defendeu a virgindade de Maria e o embranquecimento de Jesus (e seus olhos azuis).
Para os espíritas mais racionais, não é surpresa o charlatanismo de Divaldo Franco. Embora exista uma ética entre os espíritas mais racionais (aqueles que não reconhecem Chico Xavier como líder e nem os dogmas lançados por este e seus discípulos) em respeitar até mesmo os picaretas que falam em nome da doutrina. Mas parece que este respeito foi longe demais, fortalecendo vigaristas.
E Divaldo se meteu numa enrascada em defender Bolsonaro pois:
- Se ele é médium de verdade, sabia que Bolsonaro era perverso e com isso, Divaldo quis o mal para o país, mostrando que não é um líder bondoso;
- Se Divaldo é bondoso e quer bem para o país, ele não é médium, pois não sabia quem seria Jair Bolsonaro, o destruidor da pátria.
Pena que tivemos que esperar mais de 40 anos para que os conselhos do melhor tradutor de Allan Kardec a respeito do charlatão Divaldo Franco pudessem ser ouvidos:
"Eu já havia sido advertido espiritualmente a respeito do médium baiano (Divaldo). Durante meses evitei encontrar-me com ele, pois é sempre desagradável constatar uma situação mediúnica nessas condições. Quando me encontrei, tudo se confirmou. Não tenho, pois, nenhuma prevenção pessoal, nada particular contra ele. O que tenho é zelo, é prudência, é necessidade de por-me em guarda e evitar que os outros se entreguem de olhos fechados às manobras que infelizmente se desenvolvem através da palavra ilusória desse rapaz. Espero em Deus que ele (agora roustainguista confesso e novo ídolo da FEB) ainda encontre o seu momento de despertar, antes que esta encarnação se finde.
Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita."
Porque não damos ouvidos aos verdadeiros sábios e preferimos ornamentar nossos ouvidos com doces mentiras exaladas por picaretas? Porque não aprendemos a escolher nossos líderes com base na racionalidade e no bom senso, sempre preferindo usar o critério da simpatia ou de estereótipos positivos para elegê-los?
Herculano estava certo e deveria ter sido ouvido sobre a chegada de Divaldo, um verdadeiro malabarista das palavras, que todos acreditavam ser um semi-deus. Com mais de 90 anos, Divaldo, após enganar multidões, amarga seu pior fim. Mal sabe ele o que lhe espera do outro lado.
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