Recentemente, um evento multi-religioso, organizado pelo site Brasil 247 (sob o comando do simpatico e genial jornalista Mauro Lopes) teve a presença de membros de várias religiões. O Espiritismo e o "Espiritismo" mandaram seus representantes, apesar de nunca ter enviado um para visitar Lula na masmorra de Curitiba, onde está preso pelo "crime" de estragar os interesses dos mais ricos.
Mas porque escrever Espiritismo duas vezes, com e sem aspas? Porque, do contrário que muitos pensam há na verdade, dois Espiritismos: o místico (conhecido popularmente e administrado pela FeB) e o científico (comprometido com a doutrina original de Allan Kardec). O místico, por divergir de Kardec em quase todos os pontos (só concorda com a ideia de reencarnação e da comunicação com os espíritos), deve ser escrito entre aspas por se tratar de uma deturpação.
Voltando ao evento, duas personalidades estiveram presentes este evento: o espírita científico Sérgio Aleixo (de quem a equipe deste blog gosta muito) e o "espírita" místico Franklin Félix que, apesar de estar afinado com o roustainguismo da FeB, se assume "de esquerda", contrariando as orientações políticas da cúpula, assumidamente "de direita".
A participação dos dois no mesmo evento lembrou bastante o episódio que resultou no chamado Pacto Áureo, no final dos anos 40, em que científicos (fiéis a Kardec) e místicos (fiéis a Roustaing, este desconhecido do grande público mas rigorosamente seguido por estes em suas ideias) que estabelecia um acordo entre estas duas correntes.
Mas, infelizmente, com o tempo, prevaleceu a corrente mística, por diversos motivos: facilidade para atrair seguidores, proteção contra possíveis confusões om magia negra e absorção de valores cristãos defendidos por toda a sociedade na época. A ciência nunca foi popular no Brasil e a FeB tratou de jogar Allan Kardec na obsolescência para que a corrente mística pudesse se espalhar e se estabilizar.
Sérgio Aleixo tem sido um corajoso combatente na iniciativa de retomar as caraterísticas kardecianas. Já Franklin Félix, que não conhecemos muito, tem dado declarações que tem muita afinidade com a corrente mística (religiosa) da doutrina. Curiosamente, Félix lembra uma versão mais jovem do veterano ator Carlos Vereza, famoso seguidor da corrente mística e que assumiu um direitismo quase fascista, como a FeB gosta e recomenda.
Devoto de Chico Xavier, o maior deturpador da doutrina, Félix se enrola, lançando mão de muito pensamento desejoso, na tentativa de embutir características racionais e progressistas no suposto "médium" que sempre defendeu ideias retrógradas e nada racionais, incluindo muita ideologia medieval, herdada da forma de Catolicismo que o beato mineiro sempre seguiu e nunca largou.
Com a possível vindoura morte de Divaldo Franco, atual líder da corrente mística, a FeB deve se envolver numa nova polemica, já que há muita cobrança, nas redes sociais, de que a doutrina recupere os traços racionais elaborados por Kardec e ausentes na parte mística popularmente consagrada. A morte de Divaldo forçaria uma nova fase da doutrina e há esperanças de enfraquecer a corrente mística, desmoralizada por inúmeros enxertos e muitas contradições dogmáticas.
Seria o surgimento de um novo Pácto Áureo? E esperar para ver.
Comentários
Postar um comentário