O festival de contradições que se transformou o "Espiritismo" brasileiro inclui também a lorota de que é uma religião sem hierarquia. Isso soa meio anárquico para uma religião com sede própria (antes na Avenida Passos, Rio de Janeiro e hoje em um pomposo palácio em Brasília) e lideranças bastante autoritárias que se recusam a mudar seus dogmas mesmo quando comprovadamente errados.
O que faz o "Espiritismo" se considerada uma religião sem hierarquia é o evidente desinteresse dos fiéis da mesma em saber que está na direção da FeB, entidade que oficialmente dá as diretrizes a serem seguidas pelos "espíritas" de todo o país.
A impressão que os fiéis têm é de que diretores de centros e casas filantrópicas agem por conta própria, baseados em um sentimento de suposto altruísmo que soa exagerado se levarmos em conta o instinto humano e o grau da evolução humana na Terra, ainda cheia de injustiças, problemas e erros, com uma humanidade cada vez mais ignorante e por isso escrava voluntária da fé.
Esse desconhecimento de que existe uma burocracia por trás das palavras lindas de amor piegas é que faz com que as pessoas veem na doutrina algo solto, sem algum comando. Detalhe que isso soa contraditórios, pois os próprios fiéis admitem lideranças que não são tratadas como tais.
"Médiuns", que no Espiritismo original eram apenas objeto de pesquisa, se tornam sacerdotes ultra-influentes no "Espiritismo" brasileiro, seguidos e defendidos por milhares de pessoas. Se este tipo de influência não é liderança, então não sei o que liderança.
Nem é preciso ir pesquisar para tomar conhecimento de quem está por trás da FeB para admitir alguma hierarquia no "Espiritismo" brasileiro. Só a influência cada vez mais forte de "médiuns" já serve como prova da existência de hierarquia em uma religião que diz que é bom sofrer e que somos todos obrigados a obedecer um ser que até o exato momento nunca foi comprovada a sua existência.
O fato de muitos fiéis tentarem defender Chico Xavier, lançando mão até mesmo de fake-news para tentar justificar o seu poder sobrenatural e sua influência significa que mesmo sem admitir, fiéis assumem o caráter de liderados, de gente que precisa de um líder para lhes dizer qual caminho tomar e o que fazer na vida, chegando ao ponto de abir mão do direito de pensar e entregá-lo a esta liderança.
Não faz sentido uma religião de dogmas conservadores e moralismo rígido não ter uma hierarquia. Se o "Espiritismo" não tivesse hierarquia, seria muito mais humanista e menos religioso, admitindo inclusive a possibilidade da não-necessidade da existência de Deus para haver mundo espiritual e espíritos. Mas como o "Espiritismo" brasileiro é assumidamente igrejeiro, tem a obrigação de ter hierarquia, pois a igreja é sempre hierárquica.
Mesmo se tornando uma bagunça doutrinária consagrada, com dogmas confusos, surreais e contraditórios, o "Espiritismo" brasileiro é ainda uma hierarquia religiosa, com vários níveis de liderança. Esta confusão não é resultante da falta de lideranças e sim da discórdia entre eles, que empenhados em usar a religião para satisfazer interesses pessoais, cada um sobrepõe o seu ponto de vista sobre o outro, sem chegar a um acordo.
Mas o fato é que o "Espiritismo" brasileiro é hierárquico. Até mesmo a admissão (sem provas) da existência de um homem que vive escondido a governar o universo, que chamam de Deus, já é em si uma hierarquia, pois religiosos não conseguem imaginar um universo sem o controle de um ser surrealmente poderoso com características humanas.
Se a crença em Deus é um bom sinal de hierarquia, o que dizer da submissão cega a Chico Xavier e a necessidade desesperada de preservar os dogmas de seus livros? Sim, o "Espiritismo" é hierárquico sim e se não fosse, teria virado pó e sumido, pois contradições não se mantem de pé por si só.
Comentários
Postar um comentário