Segundo muitos, a fé não precisa de comprovação. Isso é perigoso, pois permite que verdadeiros absurdos, aceitos sem verificação, gerem danos na compreensão do mundo real, que em consequência, acaba gerando danos em muitos fatos reais, resultando em um mundo injusto e cronicamente problemático.
Mas a fé, sinônimo enrustido de credulidade, beneficia as lideranças que lançam as teses absurdas a serem transformadas em "verdades inquestionáveis" a serem aceitas por pessoas com o intelecto adormecido. Um dos que foram beneficiados - e muito - pela ingênua fé de seus admiradores foi o charlatão e assistencialista Chico Xavier.
O que seria um mero beato a procura de uma igreja para rezar acabou "virando" um paranormal superpoderoso e altruísta incansável, graças a um monte de lendas construídas por seus admiradores, ansiosos por alguém que representasse um "santo" vivo e uma espécie de "Jesus" brasileiro.
Para que a iniciativa fosse bem sucedida, foi necessário criar um festival de fake news sobre o beato, para que a sua imagem fosse superalimentada, ocorrendo desta maneira uma forma diferente de canonização, tornando o beato em um ente superpoderoso e objeto de idolatria fanática de seus seguidores (que seguem uma forma não-estereotipada de fanatismo, com um comportamento mais sóbrio, mas não menos alucinado).
Bom lembrar que a esquizofrenia confundida com paranormalidade expulsou o beato do Catolicismo medieval que seguia. Entristecido, pois a religiosidade era seu hobby favorito, Xavier foi adotado por deturpadores "espíritas" a procura de alguém que pudesse traduzir o catolizado routainguismo para os brasileiros, dando origem a um dos casos mais bem sucedidos de fanatismo religioso da face da Terra.
Mesmo sendo uma farsa como médium, Xavier era um bom escritor. Tinha boa redação e tinha algum conhecimento sobre literatura, pois lia muito. Isso foi importante para que ele fosse contratado pela FeB para "psicografar" (escrever livros usando nome de mortos ou de personagens fictícios) livros que renderiam fortunas para a instituição (apesar de alegados "para caridade", algo que nunca teve resultados comprovados).
DIVINDADE VIVA E ATIVISTA SOCIAL
Para aumentar a idolatria e favorecer a venda dos livros, a FeB decidiu transformar Chico Xavier em uma divindade viva, um semi-deus encarnado. Para tal, foi preciso inventar um monte de superpoderes ao beato, que poderia voar, se desmaterializar e até mesmo estar em mais de um lugar simultaneamente. Talvez o medo que ele tinha de voar de avião se deve pelo fato do citado meio de transporte ser uma concorrência para a alegada faculdade alada do beato esquizofrênico.
Só que o que mais reforçou a divindade de Xavier foi o suposto altruísmo incansável do beato. A ponto dele ser confundido como um incansável ativista social - estranhamente ele reprovou várias formas de ativismo social na famosa entrevista para o talk show Pinga Fogo em 1971, fazendo surgir uma espécie de fanatismo "consciente" por parte de esquerdistas ingênuos que acreditavam que ajudar os pobres era a principal meta na vida do beato mineiro.
Estes esquerdistas ingênuos passaram a acreditar que trancar pobres uma casa, com direito a comida e cama (ué, nas prisões e manicômios não tem comida e cama? Vamos canonizar os donos de prisões e manicômios também!) seria "ativismo social" e rapidamente elegeram Xavier como mestre, numa atitude de amor platônico (não-recíproco), já que o "médium" era direitista convicto e detestava a esquerda, além de ter se aliado a vários direitistas famosos.
Só que até para tentar provar o suposto esquerdismo de Xavier, alguns esquerdistas inventaram teses absurdas. Inventaram que a entrevista para o Pinga Fogo foi dada em transe mediúnico (não seria Xavier e sim um espírito que teria respondido). Outros inventaram que os militares obrigaram Xavier a virar direitista. Teve até quem dissesse que os militares da Escola Superior de Guerra o premiaram para que o beato escapasse das possíveis punições pelo "seu esquerdismo".
Muitas teses foram inventadas, usando em muitas vezes o pensamento desejoso, para que Chico Xavier pudesse ser moldado ao gosto de seus admiradores, como um boneco feito de massa de modelar. A fé é algo bastante subjetivo e relacionado com o pensamento pessoal de cada indivíduo. Mas cada indivíduo, até por instinto humano, deseja que seu pensamento seja defendido pela maioria da humanidade, por mais absurdo e irreal que fosse.
Por isso foi necessário inventar muitas mentiras sobre o beato Xavier, que nunca foi médium ou filantropo e sim um mero beato que só queria um lugar para se ajoelhar e rezar. Mas alimentaram a erva daninha, fizeram dela um monstro gigantesco e toda uma doutrina foi destruída. Culpa dos que colocam a fé acima da razão, permitindo que verdadeiros absurdos fossem aceitos com naturalidade.
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