Nosso sistema social consagrou o mito que separa seres humanos em pessoas boas e pessoas más. Essa consagração é repetida ad nauseam e várias instituições insistem em reforçar a ideia. As religiões e as obras de entretenimento - como no cinema, por exemplo - trouxeram mais justificativas para o reforço deste mito, conhecido como "maniqueísmo". Mas este mito é verdadeiro? A resposta é: NÃO!
A noção de que estamos divididos em bons e maus é um equívoco, pois somos na verdade integrantes de uma espécie em aprendizado e essa noção é no mínimo subjetiva e por isso, relativa. O que seria bondade e maldade? Será que quando beneficiamos uns não estaríamos prejudicando outros?
O maniqueísmo foi consagrado através da religião e fortalecido pelos meios de comunicação através de obras de ficção e telejornais. Se tornou a base do moralismo cristão que conduz o pensamento conservador. Pensamento que predomina não apenas entre os conservadores como também na esquerda dita progressista, que no fundo também é conservadora por se aprisionar em convicções impostas pelas convenções sociais, já que para termos vida social é preciso seguir alguma regras que são bastante rígidas.
Para definir quem é bom e quem é mau recorremos a estereótipos lançados por obras de ficção. É o mocinho (o bom) contra o vilão (o mau). Como se fosse impossível para as pessoas boas cometer maldades e para as pessoas más realizar atos de bondade.
Se observarmos com atenção racional, sem a histeria do moralismo dominante, vamos ver pessoas tidas como boas cometendo maldades e pessoas más comando atitudes altruísticas, fatos que desafiam o maniqueísmo consagrado em nosso sistema moral. Como pessoas boas podem fazer coisas más e vice-versa? A única explicação é que nenhuma pessoa é boa e nenhuma pessoa é má.
Somos seres em processo de aperfeiçoamento. A maldade é resultante de nossa ignorância. Quanto mais ignorante - no sentido racional do termo, não no estereótipo baseado na escolaridade, outro conceito subjetivo - menos altruísta se é, pois somente a racionalidade, temperada com um pouco de compaixão, é capaz de entender um sofrimento em que a própria pessoa nunca passou.
É um erro grave separar as pessoas de boas e más e muitas injustiças decorrem deste maniqueísmo. Separar os chamados "bandidos" que roubam por necessidade dos empresários, cuja ganância é invisibilizada, apesar de evidente através do estilo de vida pomposo e altamente supérfluo, é um bom exemplo de como este maniqueísmo é injusto.
Esse maniqueísmo faz com que os opressores arrumem um jeito de poder oprimir obtendo apoio da opinião pública, pois estando do lado do "bem", se acham no direito - e no dever - de agredir os outros que embora do lado mais fraco, supostamente pertencem ao lado do "mal", podendo arruinar a vida das outras pessoas. Quando na verdade quem está causando estragos são os opressores, supostamente pessoas de "boa índole".
É muito fácil usar o discurso maniqueísta para perpetuar injustiças e consequentemente os conflitos resultantes delas. O sistema capitalista tem se beneficiado deste maniqueísmo e por isso mesmo não abre mão de investir nas religiões e no entretenimento para eternizar a ideia de que nos dividimos em 'bons" (que merecem recompensas) e os "maus" (que merecem ser punidos, com maior rigor possível).
Mas o fato verdadeiro é que não existem pessoas boas e más. Bondade e maldade são conceitos que se referem a atitudes e não a seres humanos. Pessoas, seres em processo de aprendizado, podem errar e esses erros incluem muitos atos que geram prejuízo alheio.
É preciso acabar com os estereótipos maniqueístas para que a humanidade possa andar e se livrar de seus erros. Pois se continuamos a nos dividir entre "bons" e "maus", muitas injustiças continuarão a ser cometidas, pelo nosso cacoete de definir o caráter das pessoas de forma tão subjetiva e irracional
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