Diz o ditado que quem insiste em dizer que é alguma coisa, é porque não é esta coisa. Se uma pessoa tem que provar que ela é boa em algo, é porque não é. Lembramos desta frase porque o "Espiritismo" brasileiro vive alardeando para todos os cantos que "Espiritismo é um só, o de Kardec".
Mesmo quando uma pesquisa superficial é suficiente para provar que no Brasil, o que chamam de "Espiritismo" é muito diferente do Espiritismo original, com inúmeros pontos divergentes e até opostos. Quem acredita que só existe um Espiritismo não usa a racionalidade e age como um fiel comum de qualquer religião de fé cega.
Na verdade, existem 4 Espiritismos no Brasil. Decidimos fazer esta divisão com base na reação ao pensamento de Kardec comparada a orientação político-sócio-econômica, já que a doutrina alega ser uma analisadora da realidade cotidiana. Não dá para entender a realidade cotidiana ignorando aspectos políticos, sociais e econômicos. Analisar ignorando é viver em um conto de fadas.
Aqui estão as divisões do Espiritismo, analisada sob estes aspectos. Lembrando que Allan Kardec era um progressista de esquerda e que no Brasil a forma predominante é conservadora de direita, com muitos dogmas semelhantes aos das seitas neo-pentecostais, consideradas arqui-inimigas do "Espiritismo" pelos próprios "espíritas" brasileiros.
A análise leva em conta a coerência entre o pensamento político-sócio-econômico com a filosofia assumida (se é ou não fiel ao Espiritismo original). Bom lembrar que o repertório do popular "Espiritismo" brasileiro é conservador e quem discorda não leu as obras chiquistas ou divaldianas, de conteúdo bastante medieval.
FACÇÃO CRISTÃ (IGREJEIRA):
"Espiritismo" cristão de direita (coerência doutrinária)
Principais expoentes: Chico Xavier, Divaldo Franco, FeB, Carlos Bacelli
A coerência reside no fato de que esta forma de "Espiritismo", que condena o aborto, criminaliza o suicídio e tem na Teologia do Sofrimento (tese que alega que sofrer acelera a evolução espiritual) a sua base não somente moral mas também doutrinária, além de outros dogmas conservadores. Esta facção só poderia ser de direita, pois a ideologia está coerente com o que pensa os "espíritas" brasileiros, cujo repertório dogmático possui os mesmos preconceitos, herdados do Catolicismo medieval seguido por Chico Xavier, seu maior líder ideológico.
"Espiritismo" cristão de esquerda (conflito doutrinário)
Principais expoentes: Franklin Félix, Carla Pavão, Ana Cláudia Laurindo
Neste caso, há um conflito doutrinário, pois a forma de "Espiritismo" seguida é a mesma conservadora e não a doutrina original fundada por Kardec, considerada "ultrapassada" pela facção igrejeira (cristã). Há um desejo de progresso no cotidiano real, refletido na orientação político-sócio-econômica, mas não na orientação doutrinária. Neste tipo de pensamento, se acaba usando uma doutrina conservadora como base de moralidade. A solução encontrada para amenizar o conflito foi omitir alguns dogmas do "Espiritismo" cristão, o que nos parece uma atitude desonesta e até hipócrita.
FACÇÃO KARDECIANA (CIENTÍFICA):
Espiritismo científico de esquerda (coerência doutrinária)
Principais expoentes: Sérgio Aleixo, Dora Incontri, Lair Amaro
É observada coerência com o Espiritismo original de Allan Kardec , em posição ao conservador "Espiritismo" praticado no Brasil. Chamados de "científicos", os espíritas fiéis a Allan Kardec refletem a lógica e a racionalidade e compreendem melhor o cotidiano real. Possuem a mesma orientação político-sócio-econômica do codificador e seu repertório dogmático estimula o progresso humano e a verificação de informações divulgadas por quaisquer meios, mesmo dentro da doutrina.
Espiritismo científico de direita (conflito doutrinário)
Principais expoentes: André Azevedo, Maria das Graças Cabral, Francisco Amado
Outro tipo de conflito, mas invertido (não como oposição, mas como o reflexo de um espelho) em relação aos "espíritas" cristãos de esquerda. Para este tipo de doutrina, deve-se o respeito ao Espiritismo original, reservado nas reuniões de estudo. No cotidiano real, deve-se aceitar as injustas regras do Capitalismo, acreditando na Meritocracia. Ou seja, manter o maior tipo de dificuldades do mundo para que os pobres possam vencer com "mérito". É a Teologia do Sofrimento aplicada ao cotidiano político-sócio-econômico. Algo bem incoerente com a doutrina original kardeciana, claramente progressista.
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