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A hipócrita lenda do abolicionismo "espírita"

Rompido com a lógica kardeciana, o "Espiritismo" brasileiro se tornou uma igreja de fé cega como outras quaisquer. E como uma igreja de fé cega, seus dogmas são lendas, pequenas mentiras inofensivas, criadas por suas lideranças, que são difundidas como verdades absolutas para os fiéis que seguem a igreja. São estórias fáceis de serem desmentidas, mas como estimulam o instinto emocional d muitas pessoas, são imediatamente aceitas e defendidas com rigor por quem acredita.

Uma dessas lendas á o ativismo abolicionista "espírita". Segundo os "espíritas", baseados na lenda publicada pelos livros de História mais conservadores, é a que a Princesa Isabel era uma abolicionista militante e que a Lei Áurea foi um ato de bondade a favor dos que se encontravam na condição de escravos. 

A isso, os "espíritas" acrescentaram a militância de Adolfo Bezerra de Menezes, político cuja biografia ainda é desconhecida, substituída por uma lenda cheio de surrealismo, como se ele fosse uma divindade viva. Para os "espíritas", a participação do político, que era real, mas insignificante (reduzida a uma simpatia à causa) era decisiva para a abolição. 

Fatos desmentem o ativismo de Bezerra e da princesa no episódio. Bezerra, como falei, era mero simpatizante e usou o episódio para forjar seu bom mocismo, mais tarde usado pelos "espíritas" como prova na sua consagração como "ser divinizado". Quanto à Princesa Isabel, fatos comprovam que ela nunca foi militante pela causa, se limitando a ser a responsável por assinar o documento, por motivos puramente burocráticos.

Na verdade, a abolição era uma necessidade apenas econômica. Autoridades nada têm de compaixão. A compaixão e a luta pela moralidade são na verdade lendas para atrair a confiança da população nas autoridades. O Golpe de 2016 mostra que a ganância parasita e atitudes predatórias dão o ritmo das atividades políticas no Brasil, desde que ele foi descoberto em 1500. E isso nunca mudou.

Doutrina racista, condenadora dos excluídos e entusiasta da Teologia do Sofrimento

O "Espiritismo" comete ainda outro erro, além de exaltar uma lenda romântica sobre a abolição: a contradição doutrinária que assume em relação ao sofrimento dos excluídos, no caso de nossa postagem, os escravos, sobretudo os negros. Apesar de pardo de origem pobre, Chico Xavier era racista, machista e homofóbico e seus livros deram a base para muitos preconceitos no "Espiritismo" brasileiro, uma religião explicitamente elitista.

Além do racismo explicitado na tese de que negros estariam "pagando por erros em reencarnações passadas" (como se ser negro fosse ruim, o que já é uma crença racista), a doutrina brasileira ainda defende a Teologia do Sofrimento, que é a tese de que o sofrimento acelera a evolução espiritual. Segundo a crença, quanto pior o sofrimento, mais acelerada é a evolução. Mais sadismo, impossível. Isso para uma doutrina estigmatizada como a mais altruísta de todas.

As declarações de Chico Xavier no talk show Pinga Fogo e de Divaldo numa entrevista recente em Goiânia, mostram que compaixão é o que menos se deve esperar da doutrina deturpada pela inclusão de inúmeros enxertos e a fidelidade nunca assumida a Jean Baptiste Roustaing, um advogado francês, católico de orientação medieval, que acreditava em reencarnação e que teve um sério desentendimento com Allan Kardec.

O "Espiritismo" brasileiro é entusiasta do "se vira", preferindo ajudar fortes e abandonar fracos, reduzindo a caridade a um assistencialismo frouxo que não resolve problemas, criando uma dependência cronica entre assistidos e supostos benfeitores que na verdade cria um vínculo doutrinário que serve para "aumentar o rebanho" da doutrina que nunca saiu dos 2%, embora viva alardeando que é "a religião que mais cresce no Brasil", sonhando com futura unanimidade.

As contradições que ferem a confiabilidade "espírita"

Observando bem as contradições doutrinárias do "Espiritismo" brasileiro não dá para esperar alguma conscientização em relação à escravidão. Moralista, entusiasta do maniqueísmo que separa os seres humanos em "bons" e "maus" com base em estereótipos, contradizente no que se deve fazer com excluídos sociais, o "Espiritismo" brasileiro  deveria ficar longe das discussões sobre a abolição da escravatura, um fato muito mais complexo do que as lendas bonitinhas que nos ensinaram na escola.

Hoje nada temos o que comemorar. Além de ser uma medida exclusivamente econômica, sem qualquer traço de compaixão, a abolição largou libertos a própria sorte e serviu de raiz para inúmeros preconceitos que vamos até hoje. Fato bem lembrado por Jessé Souza em sua obra-prima Elite do Atraso, cuja leitura é obrigatória para quem quer entender a História do Brasil como sempre foi. Falando em livros sobre História do Brasil, o delirante Brasil, Coração do Mundo (Pátria do Evangelho), um livro cheio de tolices sedutoras, o destino merecido é a lata de lixo.

Os "espíritas" tem duas escolhas: ou se libertam de seus dogmas e lutam de forma mais ativa pelo fim das desigualdades do Brasil, atacando os verdadeiros parasitas da sociedade brasileira (banqueiros, especuladores e grandes empresários, além de todos que trabalham em nome destes, mesmo secretamente) ou fiquem calados em seus centros "espíritas" defendendo um mundo paralelo muito mais simplório que o mundo que vemos na realidade. Afinal, fugir da realidade é a vocação clara dos "espíritas" brasileiros.

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