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Porque o "Espiritismo" só atrai adeptos brasileiros?

Para que uma doutrina ou ideologia tenha valor, é necessário que sua repercussão seja aceita de forma ampla por um número maior de pessoas, sob o respaldo de intelectuais sérios, de diversas localidades. Não é o que acontece com o "Espiritismo", aceito apenas no Brasil ou por brasileiros que moram no exterior. Mesmo alguns poucos estrangeiros que aderem, foi por contato com algum brasileiro. Mas porque isso acontece?

Para entender o que aconteceu, a primeira coisa a fazer é aceitar o fato de que o Espiritismo original, codificado por Allan Kardec na França, caiu no esquecimento, sendo substituído por uma forma deturpada, que aproveita ideias estranhas lançadas por Jean Baptiste Roustaing, algoz de Kardec. 

DETURPAÇÃO FACILITOU ACEITAÇÃO NO BRASIL

A racionalidade científica do pedagogo de Lyon foi substituída pelo igrejismo de Roustaing, um advogado de Bordéus que desejava atualizar o Catolicismo para que este aceite a reencarnação e a comunicação com os mortos. Com Roustaing, o "Espiritismo" ganha uma nova cara, menos científica e mais religiosa, deixando lacunas abertas para permitir a entrada de vários dogmas absurdos.

Foi esta forma de "Espiritismo" que chegou ao Brasil. Mas Roustaing não tinha prestígio e pouco se sabe sobre ele. Nem mesmo a sua aparência é conhecida. Ficaria complicado para uma liderança tão obscura atrair a simpatia de adeptos. A saída que os brasileiros encontraram, pasmem, é descartar a pessoa de Roustaing, mas não a sua ideologia, que seria embutida em Allan Kardec. Ou seja, responsabilizar Kardec pelas ideias de Roustaing.

Isso significa enxertar um autor sem ideia (Kardec) com uma ideia sem autor (Roustainguismo), causando uma confusão que praticamente vandalizou uma doutrina inteira, travando o progresso espiritual de seus seguidores, além de transformar uma doutrina que deveria ser racional em mais uma igreja igual a quaisquer outras.

Mesmo assim, a fama de "racional" foi mantida, mesmo não sendo posta em prática. Isso serviu de isca diferencial para atrair falsos intelectuais (embora há verdadeiros que caem nesta cilada) para a igreja, vendo na fama de "racionalidade" uma forma de garantir a "veracidade" dos dogmas sem pé nem cabeça defendidos pelo "Espiritismo" deturpado praticado no Brasil.

Mas é uma racionalidade tosca, nunca praticada pelos seguidores, que aceitam os dogmas sem questionar, confiando em seus emissores, em geral falsos médiuns de altíssimo prestígio, fantasiados de "intelectuais", graças a fama de racionalidade artificialmente embutida no "Espiritismo" deturpado. 

FÉ CEGA DISFARÇADA DE "FÉ RACIOCINADA"

"Se os 'médiuns' pensam, o dogma é verdadeiro e eu não preciso raciocinar", pensa qualquer seguidor da doutrina, que se sente mais seguro que os fiéis de outras crenças, por causa desta falsa fama de racionalidade que faz com que os dogmas pareçam pre-verificados e portanto, mais verdadeiros que os dogmas de outras religiões. É o que os "espíritas" chamam de "fé raciocinada".

Uma religião com estas características só poderia atrair um povo como o brasileiro, pré-disposto a aceitar seitas não-racionais mas como fama de racionalidade. Um povo que se acha sábio ostentando uma nítida ignorância - comprovada pela vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018 e por declarações irracionais de bolsonaristas - é perfeito para o "Espiritismo" deturpado, na prática rompido com Allan Kardec, este reduzido a um objeto de bajulação e carimbo de autenticação para dogmas sem sentido.

Por isso que não vemos "espíritas" em outros países. Nem mesmo na França se observa algum tipo de "Espiritismo", sequer o original. A deturpação feita por Roustaing desmoralizou Kardec, que acabou caindo no esquecimento, enterrado junto com Oscar Wilde e Jim Morrison, intelectuais que pelo menos tem muito mais a ver com o pedagogo de Lyon do que os alucinados "médiuns" brasileiros que o bajulam.

Muito melhor educados e vacinados contra o fácil deslumbre com coisas que pareçam surreais ou piegas, os povos estrangeiros não caem facilmente nessa cilada do "Espiritismo" brasileiro e seus dogmas sem pé nem cabeça que ajudam a emperrar a evolução da humanidade, oferecendo fé cega como se fosse ciência. Lá fora, "médiuns" como Chico Xavier e Divaldo Franco nunca passam de vigaristas a explorar a credulidade alheia para obter benefícios pessoais.

Sempre foi muito difícil popularizar a racionalidade. Brasileiros odeiam a racionalidade. Certamente se não fosse Jean Baptiste Roustaing (o querido "João Batista" nas palavras do deturpador Chico Xavier), o Espiritismo original nem seria conhecido no Brasil, dificultando o caminho para que a sua forma deturpada fosse aceita e seguida por cerca de 1,8% da população, parcela formada por ingênuos que enxergam racionalidade onde só existe pura fé cega.

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