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Médiuns nunca devem ser objeto de adoração

Uma das coisas que diferem o "Espiritismo" praticado no Brasil do original é que aqui os médiuns sejam eles legítimos ou farsantes, são cultuados e transformados em lideranças, se tornando objetos de adoração, ganhando um poder de influência que é grande e forte.

Isso é um erro, pois na verdade os médiuns deveriam ser meros intermediários das mensagens transmitidas pelos espíritos. Médium é apenas um serviçal e assim deveria ser tratado, sendo esquecido após a conclusão de seu trabalho. O que importa é o espírito comunicante, o autor responsável pela mensagem. 

Mas no Brasil, a coisa se inverte, tornando o médium mais importante que o suposto espírito comunicante. Este foco na personalidade do médium é tanta que permitiu para que farsantes sem condições reais de entrar em contato com mortos, usassem a suposta mediunidade para se promover, influenciar pessoas e obter lucros, favorecimentos e até satisfação sexual.

A idolatria aos médiuns, transformados em sacerdotes da igreja em que se transformou o "Espiritismo" no Brasil, é algo nocivo que além de desviar o foco das mensagens enviadas, favoreceu um festival de irregularidades que só contaminou a doutrina, travando de vez a evolução espiritual. 

Afinal não dá para evoluir espiritualmente com fé cega, irracional e puramente instintiva (animalesca). O diferencial do Espiritismo (sem aspas) original sempre foi a racionalidade e o empenho em verificar os dogmas. 

No Brasil, os dogmas são aceitos sem verificação e de acordo com o prestígio dos "mediuns", seres falíveis, de conhecimento limitado e capazes de mentir para proteger interesses particulares. Assim se permitiu que absurdos e contradições se estabilizassem no repertório dogmático do "Espiritismo" brasileiro, impedindo a evolução espiritual por meio do desenvolvimento intelectual.

Nos tempos de Allan Kardec, as coisas não eram assim. Tratada como ciência, a doutrina era estudo o tempo todo. Não havia cultos e as reuniões se pareciam com as que vemos nas salas de aula de faculdades. Aqui, as reuniões do "Espiritismo" brasileiro se parecem com missas, com ausência absoluta de análises e debates racionais.

Quando Kardec estudou para codificar (organizar) a doutrina, os médiuns eram pessoas comuns com o dom de se comunicarem com os mortos e a sua função era limitada a isso. Não eram líderes, não eram adorados e após as sessões de comunicação, voltavam para o seu cotidiano normalmente. No Brasil, os "médiuns" são as estrelas principais e suas comunicações são como verdadeiros shows, atraindo multidões.

O culto aos médiuns  (e "médiuns") tem arruinado o "Espiritismo" brasileiro. Sua missão em evoluir a humanidade foi violentamente descartada, substituída por um culto de adoração a personalidades e prática fajuta de caridade que nunca tira os mais carentes de seu crônica miséria, além da secreta cumplicidade de lideranças com gananciosos magnatas do Brasil.

Isso tudo torna o "Espiritismo" brasileiro uma verdadeira farsa, uma seita de dogmas sem pé nem cabeça que existe para promover "médiuns" transformados em velocinos de ouro modernos a despertar adorações cada vez mais irracionais e fanáticas, estimulando um festival de fraudes e erros doutrinários que desafiam a lógica e o bom senso. 

O "Espiritismo" brasileiro é claramente responsável por todo o retrocesso que vivemos, capaz de colocar um neo-fascista para comandar o país. Lamentável.

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