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O Filho do milionário e o Comunismo


(Escrito por Guilherme Coutinho - publicado no Brasil 247)

O filho do milionário, mesmo estudando nas melhores escolas, tem um professor particular poliglota a seu dispor. O filho do milionários estuda música em Fenders e Estradivários, mesmo que a atividade seja só um hobby. O filho do milionário,com 4 anos, já conhece 20 países e vai ser fluente em 3 idiomas antes dos 18 anos. Ele nunca vai fazer vestibular, porque vai fazer Business Administration na Califórnia ou Belas Artes em Paris. O filho do milionário só viaja em avião particular ou helicóptero fretado.Carro, só blindado. Segurança, só armado. O filho do milionário nunca vai precisar ganhar a vida ou pensar em conta. O filho do milionário gosta do capitalismo e aprende, desde a mais tenra ideia, a adorar os sistemas que permitem seu estilo de vida.

O filho do milionário não se sente culpado pelos problemas do mundo e acha completamente normal que seus pais banquem seu estilo de vida, com a fortuna que adquiriram "com honestidade e muito trabalho duro". O filho do milionário não acha o mundo injusto, porque acredita na justiça divina. O filho do milionário vai à missa aos domingos. Ele mesmo pretende doar muita coisa para as instituições de caridade. "Quem sabe, abrir uma fundação". O filho do milionário é o cristo de sua própria religião: não se acha em nenhum momento culpado pela miséria alheia, mesmo sabendo que o valor gasto em sua educação, alimentaria centenas de famílias na África ou na favela vizinha a seu bairro. Talvez o filho do milionário nunca tenha refletido sobre isso. "O que uma coisa tem com a outra?"

O filho do milionário adora dizer que o comunismo não deu certo, mesmo que ele não saiba exatamente o que significa o termo comunismo. Toda ideologia de esquerda é colocada sob esse manto e rechaçada como o antagonista de Deus em uma luta constante entre o bem e o mal. A ameaça é comunista, o ditador é comunista, o comunismo mata, o comunista é pedófilo e terrorista, prenda o comunista, bata no comunista, o comunismo não dá certo.

Para o filho do milionário, o capitalismo deu certo. Imaginem, um sistema de distribuição de riqueza, que permite que ele passe todo natal em NY, todas férias em Ibiza, todo aniversário em um país diferente do leste europeu. Imaginem uma relação entre meios de produção que permite que ele troque de iate 2 vezes ao ano, de carro 3 e quantas vezes ele quiser de bens materiais, de toda sorte. "Socializar a pobreza? Não, obrigado"

O capitalismo não dá tão certo assim para a criança que é obrigada a trabalhar em minas de carvão e aos jovens que morreram nas guerras motivadas por petróleo. Para aqueles que faleceram por inanição, por não conseguir se alimentar de forma adequada. O capitalismo não dá certo para o desempregado que, sem capital, fica à mercê do sistema. Não dá certo para o pequeno trabalhador da terra, para os doentes. O capitalismo não dá tão certo para o cidadão de classe média com consciência de classe e, para ser honesto, não deu muito certo para mim também.

Mas é melhor falar baixo. Esse papo subversivo de distribuição de riqueza pode incomodar o filho do milionário. Pode incomodar também, o filho do emergente que age como se milionário fosse. Esse assunto é perigoso e pode incomodar até uma parcela da sociedade subjugada pelo capitalismo em si, mas que, no fim das contas, detesta o comunismo sem saber, mais uma vez, o que significa o termo. Afinal, o que deu certo foi o capitalismo. Muito certo. Certo demais. Para o filho do milionário.

Guilherme Coutinho é Jornalista, publicitário e especialista em Direito Público. É autor do blog Nitroglicerina Política.

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