Muita gente deve ter estranhado o título desta postagem. Para o senso comum, o "Espiritismo" brasileiro é considerado "kardecista", como se o professor lionês concordasse com os delírios igrejistas que foram inseridos com irresponsabilidade na suposta filial brasileira da doutrina.
Mas para quem conhece os bastidores do chamado "Espiritismo" brasileiro, sabe muito bem que Allan Kardec é muito admirado e nada seguido. Quase nada se aproveitou da obra kardeciana no "Espiritismo" brasileiro que secretamente preferiu seguir o Catolicismo híbrido de Jean Baptiste Roustaing, muito seguido e pouco admirado.
O que poderia explicar o desprezo pelos ideais kardecianos, apesar de tanta bajulação? Para entender porque há tão pouco de Allan Kardec no que os brasileiros conhecem como "Espiritismo" é preciso lembrar que a FeB foi fundada por dissidentes católicos que no fundo nunca largaram a sua fé particular.
As perseguições que os "espíritas" sofreram no início, por serem confundidos com rituais de magia negra, erroneamente atribuídos às religiões afro-brasileiras, fortemente perseguidas por razões racistas - fizeram com que a FeB incorporasse dogmas católicos e se transformasse numa religião - Kardec havia fundado uma filosofia e não uma igreja, como pensam até hoje - resultando na gororoba doutrinária que predomina até hoje na doutrina.
Bom lembrar também que Allan Kardec era considerável difícil para quem se acostumou em apenas acreditar, sem analisar sobre o que é lido ou ouvido. Muitos dos dogmas inseridos no "Espiritismo" brasileiro vão contra ao que foi codificado pelo professor francês.
Há um video que mostra algumas das várias diferenças entre a obra de Kardec e o que é praticado no Brasil sob o rótulo de "kardecista", mostrando que um dos maiores erros do "Espiritismo" brasileiro é se assumir discípula do pedagogo francês, sem adotar uma linha de seu material pesquisado.
Além da zona de conforto do dogmatismo católico, reforçado pela entrada do beato católico-medieval Chico Xavier, que causou um verdadeiro vandalismo doutrinário no "Espiritismo" brasileiro, a obra do Espiritismo original sempre pareceu chata e difícil, alem de não ter o "delicioso" pieguismo cristão que atraiu tantos ingênuos para a doutrina.
Aliás, aproveitando para encerrar de uma vez por todas a insana tese de que Chico Xavier era a reencarnação do codificador: além da oposta divergência entre ambos, Xavier representava um retrocesso doutrinário, pois sempre foi medieval e nada racional, apesar de muito esperto e usado a doutrina para se promover e enganar multidões. Chico e Kardec: pessoas diferentes, nitidamente discordantes e que NADA tem a ver um com o outro. E não se fala mais nisso!
Até porque entre o estudioso de Lyon e o beato de Pedro Leopoldo, os fiéis preferiram o segundo, pois ele sensibiliza mais os instintos irracionais de quem acha a pesquisa científica um saco. Palestras em que a obra de Kardec é analisada com mais objetividade costumam acontecer em salões vazios, com no máximo 10 pessoas, enquanto delírios igrejistas e místicos atraem multidões.
Mas bajular Kardec foi confortável para o "Espiritismo" brasileiro. Kardec é chato, mas traz prestígio. Afinal, foi ele quem começou tudo isso e é preciso criar vinculo com o pedagogo para criar prestígio e tornar o "Espiritismo" brasileiro respeitável. Até para se sobrepor as outras religiões com o pretenso diferencial de ter dogmas sem pé nem cabeça supostamente "autenticados pela ciência".
Mas no fundo, estudar é muito tedioso e estraga o prazer sentimental da fé cega, esta trazida por um beato esquizofrênico que fingia ajudar os mais pobres. Chico Xavier arruinou ainda mais o que já estava estragado, vandalizando toda uma doutrina para que a racionalidade proposta originalmente pudesse se dissipar e desse lugar a uma fé fanática que acredita fazer ciência com ideias ridículas.
Alucinado, o "Espiritismo" cresceu com força, pois encontrou em uma sociedade altamente religiosa e nada racional o terreno fértil para que verdadeiras asneiras como as "colônias espirituais" e as "crianças-índigo" pudessem se espalhar. A erva daninha cresceu e matou a árvore, que segue esquecida pela grande maioria de alucinados. Até quando?
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