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Nada a Perder ou como salvar um charlatão através de um filme


Está comprovado que o cinema não raramente influencia a realidade. A noção que temos de vilania x bom-mocismo foi nos trazida pelo cinema. Filmes de heróis deixam claro de que lado devemos estar, sempre criminalizando o outro lado, como se estimulasse, através de estereótipos, um apartheid que separasse bons" dos maus".

Há também as biografias de pessoas reais, mas com estórias que beiram o surreal, mas encantam a todos que pensam ser possível a reconstituição fiel de fatos reais através de obras de ficção. E como não falar dos filmes bíblicos, cujas características mitológicas não impedem que multidões de ingênuos pensem se tratar de fatos históricos dignos de respeito. Por mais absurdos que pareçam ser.

Nos últimos anos, o Brasil decidiu fazer seus filmes digamos, bíblicos. A religião responsável por dar o embasamento para tais filmes não é a Católica (embora se pareça muito com ela): foi o "Espiritismo" brasileiro.

Porque não fazer filmes bíblicos brasileiros com conteúdo católico? Porque o Catolicismo tem características peculiares muito demarcadas, o que soa meio sectário, feito para um púbico específico, limitado. Os evangélicos já sentem na pele esta sina: os filmes bíblicos da Record só conseguem atrair os fiéis da Igreja Universal, sendo desprezados por quem não faz parte dela.

O "Espiritismo" brasileiro é melhor nesta função de oferecer um religiosismo menos estereotipado: por não ter características próprias, soa como ecumênico, capaz de atrair um número maior de pessoas. Por isso que fazer filmes "espíritas" se tornou uma boa forma de impor o moralismo religioso a um público cada vez maior através do "sadio" entretenimento.

Além disso, pelo "Espiritismo" brasileiro ser uma religião meio duvidosa (até pela falta de firmeza no seu dogmatismo, frequentemente contraditório), ela precisa criar meios para manter a atratividade. É preciso fazer o "Espiritismo" estar sempre em alta e com muitos seguidores. Há a necessidade de preservar a boa reputação diante da opinião pública, incluindo profanos, laicos e até ateus.

Fazer novelas e filmes "espíritas" tem sido um meio poderoso de manter a seita em alta, consagrando a fama da "religião que patenteou a caridade", transformando verdadeiro charlatães em mestres admiráveis e adocicando o moralismo medieval para que se torna palatável nos dias de hoje.

DIVALDO FRANCO, NADA A PERDER

Depois de Bezerra de Menezes e de Chico Xavier, outro charlatão "espírita" ganha a sua biografia cinematográfica, a ser lançada nesta semana: Divaldo Franco e seu Mensageiro da Paz, dirigido por Clóvis Mello.

Com estrelas globais no elenco (Bruno Garcia como Divaldo e Regiane Aves como a autoritária Joanna de Angelis), a proposta do filme é justamente a mesma de Nada a Perder, filme sobre Edir Macedo que lançou neste ano a sua continuação. A proposta de servir de uma espécie de canonização para a personalidade focalizada em cada filme.

Se alguém nos questionar se estamos colocando em dúvida o caráter de Divaldo Franco, peço a este alguém se ele fez o mesmo questionamento em relação a Edir Macedo. Pois para os seguidores do fundador da Igreja Universal, Edir é um homem de bondade infinita, moralidade superior e enviado dos planos superiores divinos, exatamente o que os "espíritas" pensam de Divaldo.

O filme sobre o "médium" baiano demonstra ter sido lançado estrategicamente. Idoso e doente, Divaldo dá sinais que pode falecer a qualquer momento e criar uma comoção coletiva é essencial para salvar o "Espiritismo" brasileiro, uma seita em decadência que perde seguidores a cada dia, incomodados com as contradições presentes em seu repertório dogmático.

Salvaria também a reputação de Divaldo, classificado como farsante por ninguém menos que José Herculano Pires (o discípulo mais fiel de Allan Kardec e de fato o maior espírita brasileiro) e que demonstrou um conservadorismo mais que medieval e apoio a corruptos de direita.

DIVALDO FRANCO APOIOU ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

O charlatão baiano se envolveu em muitas polemicas. Administrava uma instituição de caridade que mais parece uma prisão. Acusações de plágio eram comuns em décadas anteriores. Apoiou uma forma estranha de alimento para ser dado a pobres, feito com restos de comida.

Se associou com o hoje governador de São Paulo, o duvidoso empresário João Dória (que recentemente chamou Alexandre Frota para o partido que pretende reformar ideologicamente, o PSDB) para lançar tal alimento, este responsável pela morte de várias pessoas em sua fase de teste.

Divaldo também deu total apoio a Operação Lava Jato, liderada pelo procurador e jovem pastor batista Deltan Dallagnol, hoje denunciada por Glenn Greenwald (o melhor jornalista do mundo na atualidade, respeitadíssimo em todo o mundo) como uma organização criminosa e altamente corrupta com intenções de impedir políticos progressistas de chegarem ao poder, através de falsos testemunhos.

A Operação Lava Jato foi responsável por destruir empresas de Engenharia que competiam com empreiteiras estadunidenses, além de prender Lula sem motivo justo - a risível fábula do "Triplex" recebido como "propina" -  o que deixa clara a prisão política, já que Lula é progressista e no poder faria coisas que arruinariam os interesses gananciosos dos mais ricos. Interesses estranhamente defendidos pelos "espíritas", formados em sua maioria pela classe média alta.

Vários integrantes da Lava Jato já tiveram cursos nos EUA, em instituições como CIA e FBI, o que desperta interesses claros anti-soberania do Brasil. A Lava Jato prejudica a nação como um todo, legitima a ganancia capitalista e torna o Brasil escravo de países imperialistas como os EUA.

A Lava Jato abençoada por Divaldo Franco também trabalha para blindar políticos corruptos que trabalhem em prol da ganancia capitalista, como os integrantes do PSDB e do DEM, comprometidos ideologicamente com as classes mais ricas. Trocando em miúdos, a Lava Jato comete muitos crimes, incluindo o de Lesa-Pátria. Crime punível de forma extremamente severa.

Além disso, seus comandantes pretendiam ganhar muito dinheiro com  operação, para financiar um ambicioso projeto político, até então secreto, que incluía alçar Dallagnol como senador e Sérgio Moro como presidente da república (Divaldo afirmou que queria Moro governando o país).

O "médium" alegou que esta operação criminosa era enviada dos planos superiores divinos. Se depender de Divaldo, o céu é corrupto e direitista, comandado por espíritos mal-intencionados. Isso deve explicar porque a Joanna de Angelis (que nada tinha a ver coma alegada Joana Angélica e muito menos com  progressista Joana D'Arc - a personalidade e as intenções da "mentora" de Divaldo eram extremamente diferentes) era tão nociva, com a personalidade de uma bruxa malvada.

FILMES PARA SALVAR CHARLATÕES

O filme sobre Divaldo é na verdade uma tentativa desesperada de reabilitar um verdadeiro charlatão, um vigarista que não cessa de enganar multidões pelo mundo oferecendo falsa paranormalidade e uma filantropia sem resultados (como é de praxe no "Espiritismo" brasileiro), feita na verdade para se auto-promover e gerar comoção.

Esperamos que seja mais um filme a cair no esquecimento, pois farsantes não merecem a admiração que possuem e o Brasil vive muito bem sem a precária caridade "espírita", incapaz de eliminar as desigualdades e de desenvolver o intelecto de seus seguidores, um bando de beatos a defender o fanatismo em torno de quaisquer charlatães que falem de bondade. Exatamente como acontece com Edir Macedo. "Espíritas", olhem para si antes de criticar os neo-pentecostais!

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