Ninguém é obrigado a saber de tudo. Mas quando se assume um compromisso com determinado assunto, é recomendável que se sabia mais o possível sobre ele. E vergonhoso para qualquer um que se assume entendido de tal assunto, demonstrar desconhecimento sobre ele. E é o que acontece com os "espíritas" brasileiros.
A transformação do "Espiritismo" brasileiro em uma religião tirou a obrigatoriedade do raciocínio e da verificação. A fé cega em lideranças e dogmas, supostamente pré-aprovados pela ciência, imobiliza os fiéis e os faz aceitar quaisquer asneiras que estejam de acordo com os estereótipos de bondade, modernidade e sabedoria.
O que fez o "Espiritismo" crescer foi justamente o compromisso com a religiosidade e a fé cega, mas desde que "legitimada" previamente pela ciência. Ciência que nunca pode contestar algum dogma "espírita", se limitando a aprová-los, criando uma espécie de "diferencial" em relação a outras religiões. Diferencial que faz com que tais dogmas pareçam mais verdadeiros aos olhos de seus seguidores.
Essa confiança cega de que tudo no "Espiritismo" brasileiro é aprovado pela ciência, tem causado uma letargia intelectual em seus seguidores, que nunca se empenharam em verificar tais dogmas, vários deles absurdos e contradizentes a muitos pontos descobertos por Allan Kardec em suas exaustivas pesquisas.
Apesar de falar em Kardec o tempo todo e elege-lo como uma espécie de "patrono", o "Espiritismo" brasileiro esnoba os resultados da pesquisa do professor francês, acusando-o de datado, trocando-o pelo neo-medievalismo de Chico Xavier, considerado "moderno" só porque apareceu depois.
Na verdade, a proposta de Allan Kardec soa bastante complicada por quem não está muito disposto a raciocinar. A maioria dos que procuram o "Espiritismo" brasileiro são pessoas desejosas de resolver facilmente seus problemas e preocupadas com o que vai acontecer após a morte, provavelmente acreditando que seus privilégios serão mantidos com o fechar dos caixões e levados consigo para o mundo espiritual.
Estas pessoas não tem o interesse de reservar seu tempo livre para raciocinar. Como muitos são de classe média alta, pessoas que acreditam terem encerrado seu tempo de trabalho e luta, preferem usar a doutrina para relaxar e pedir ajuda facilitada para a manutenção do luxo conquistado.
Estudar é complicar as coisas e bom mesmo é acreditar, sobretudo naquilo que parece nobre, supostamente resultante da racionalidade alheia. Até porque pensar é para os outros. E para oferecer esta falsa racionalidade que existe os "médiuns". Eles, que nunca pensaram de fato, são os que podem pensar pelos seus inertes fiéis.
Mesmo assim, a racionalidade não é assim tão desejada, embora sirva de diferencial. Curioso ver que quanto menos intelectualizado for o evento, mais gente terá em seu ambiente. Espíritas comprometidos com Kardec e que não aceitam Chico Xavier como líder influente, costumam fazer palestras de conteúdo científico para no máximo 15 pessoas. Já palestras de "médiuns" famosos falando trivialidades sobre família, lotam salas com gente sentada no chão.
Sabe-se que a maioria da humanidade, de acordo com a regra instintiva do menor esforço, não gosta de intelectualidade. Pensar é um esforço e os que estão dispostos a isso se evoluem mais rapidamente. Mas pensar não atrai público e a FeB e instituições "espíritas" precisam alimentar suas lideranças (pensaram que era para caridade? Ora, acordem!).
Atrair público é atrair dinheiro. E quanto mais sentimental e ais relacionado com fé cega, mais sucesso terá. A meta é respeitar a lei do menor esforço e atrair as pessoas por aquilo que é conseguido sem algum tipo de complicação, para que a adesão seja cada vez maior.
Pensar é para poucos. Allan Kardec nunca teve condições de lotar salões. O que dizer de grandes estádios e lugares similares?
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