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Nem bondade, nem maldade: é apenas conflito de interesses

Recentemente publicamos um texto falando que o conceito que separa pessoas boas das más, base do moralismo religioso dominante, além de ser superficial e por isso equivocado, serve para perpetuar injustiças. Esquecemos de dizer o que ocorre de fato na humanidade que estimula pessoas a agirem como boas e más. Na verdade, tudo é uma questão de conflito de interesses.

Deveríamos esquecer os conceitos retrógrados do moralismo religioso, mais condizentes com tempos muito antigos. Uma observação séria e isenta vai perceber que tudo gira em torno do conflito de interesses. Seres humanos são egoístas por instinto e defender convicções, patrimônios e prestígio faz com que briguemos com os outros para que não percamos nossos interesses pessoais.

Isso nada tem a ver com ser bom ou ser mal porque, além de fazer parte de nosso instinto, a defesa de interesses pode ao mesmo tempo ser uma coisa boa e má, dependendo do dano gerado ou de quem sofre o dano. Não raramente, bons e maus são vistos de forma invertida, graças a estereótipos criados em torno da bondade e da maldade.

Exemplos? Um empresário que decide reduzir o salário de seus trabalhadores para preservar, diante de crises econômicas, a vida de magnata que possui, raramente é visto como mal. Há quem tenha piedade do tal empresário, tratando-o como se fosse um miserável sofredor, um coitado.Por outro lado, quase ninguém enxerga altruísmo quando um traficante cria meios de beneficiar a comunidade onde vive.

Mas a nossa noção de moralidade passa sempre pelos estereótipos. Incapazes de usarmos a racionalidade para definir caráter, achamos mais fácil definir através do estereótipo. A corrupção, a maldade, a ignorância é sempre reservada a conceitos ligados às pessoas da qual consideramos inferiores. Aquelas que consideramos superiores acreditamos incapazes de cometer quaisquer erros e não raramente as consideramos símbolos de máxima perfeição. Como deuses encarnados na Terra.

O conservadorismo tradicional do povo brasileiro faz com que acreditamos em níveis diferentes na espécie humana, onde algumas pessoas são melhores que as outras e por isso merecem níveis diferentes de direitos e recompensas. Prêmios aos superiores e punições aos inferiores. É o que desejamos para toda a humanidade.

É muito fácil usar estereótipos de caráter para que os interesses de uns se sobreponham aos interesses de outros. Alguém que se juga (e também julgado por outras) como superior pode se posar de "altruísta" não pela ajuda aos outros, mas pela imaginária responsabilidade de liderar e guiar a humanidade, como acontece frequentemente com os empresários, tidos como "mais perfeitos seres humanos da Terra", junto de juízes, militares e lideranças religiosas.

Fica fácil aceitar as injustiças com o moralismo estereotipado que estamos habituados a conhecer. As opressões se tornam justas quando convertidas em ações cometidas por "superiores" (dotados de virtudes) contra "inferiores" (possuidores de falhas nocivas). São os "bons" agindo para que os "maus" sejam punidos.

Com isso se torna plausível as injustiças vistas e os benefícios tão diferentemente repartidos entre os homens. Os interesses dos "bons" se sobrepondo dos "maus" às custas de muita maldade cometida por quem se acha detentor das melhores qualidades humanas. Por isso que o mundo nunca melhora.

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