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Do contrário do esperado, religiosidade tem aumentado no Brasil do século XXI. Distopia tem grande responsabilidade nisso

Seja bem vindo de volta à Idade Média. Uma era onde a religiosidade era quase unânime e sua negação extirpada do convívio social, está de volta no Brasil. Cada vez mais, de acordo com que se observa nas redes sociais, os brasileiros estão ainda mais apegados à religiosidade, a crença em seres superpoderosos que nunca aparecem e em estórias surreais que provocam lágrimas.

Mas porque em pleno século XXI resolvemos fortalecer a religiosidade quando deveria ser o oposto? Porque insistimos em achar que nosso apego a Deus e divindades afins seria um avanço se em sociedades mais evoluídas, a religiosidade começa a desaparecer para dar lugar a racionalidade e ao compromisso com o mundo real?

É lamentável ver que brasileiros insistam em abrir mão da lógica em muitos momentos para louvar quem nunca teve a existência comprovada e defender teses sem pé nem cabeça. Não percebem o ridículo de conversar com seres imaginários, justificando a sua suposta existência só pelo fato de que 90% dos seres humanos pensa a mesma coisa, se entregando de corpo e alma a mesma ridiculosidade?

Mais lamentável ainda saber que não apenas quem se assume como conservador que adere a este ilusão. Muitos do que se assumem "de esquerda" ou "progressistas" também não conseguem largar a religiosidade, traindo o ateísmo de Karl Marx e preferindo colocar no lugar uma imagem revisada de Jesus que o define como "o primeiro comunista da humanidade", entregando a ele a patente da bondade e do amor ao próximo. Como se não pudéssemos ser altruístas fora do Cristianismo.

Independente de que ideologia for, percebe-se que imensa parte da humanidade, ainda em sua fase infantil de evolução, ainda continua preso a religiosidade. Acreditar em um tutor invisível é bastante confortável para muita gente e a sua real ausência lhes parece ameaçadora. Como um universo sem um dono significasse o caos, já que estamos acostumados a achar que todas as ações vem de seres humanos ou assemelhados.

Mas porque a religiosidade está extremamente forte em um século que exige cada vez mais racionalidade na resolução de problemas? Certamente a entrega às máquinas e a ultra-valorizada evolução tecnológica pode estar dispensando as pessoas de evoluírem seu intelecto. Mesmo condenando a preguiça, a moral religiosa estimula a preguiça intelectual que faz com que as pessoas coloquem a fé acima da razão.

Claro que a vida social e a necessidade de um tutor invisível faz com que a fé e o fascínio pelo sobrenatural e místico se fortaleçam. Mas um fator a mais pode ter tornado ainda mais poderosa esta adesão: a distopia. Para quem não sebe, distopia é como se chama um cenário de fim de mundo, em que problemas chegam ao extremo, a ponto de serem quase insolúveis.

A polarização política, o agravamento da miséria, do desemprego, além do aumento da ganância capitalista têm causado grandes estragos na humanidade. Se um cenário como este já é suficiente para nos desesperarmos, some a isso a pandemia de Covid-19, uma doença misteriosamente assassina que está mudando radicalmente nosso estilo de vida e matando um número imenso de pessoas.

Este cenário de caos semi-estabelecido força ainda mais as pessoas a se apegarem a forças ocultas, já que enxergam impotência de quem deveria resolver no mundo real. Sem alguma autoridade a resolver a realidade, resta recorrer à imaginação e acreditar que no mundo invisível, sem existência comprovada, existam seres responsáveis capazes de resolver os problemas mais complexos.

Isso explica o aumento da religiosidade em pleno século XXI. Mesmo sendo ridículo acreditar em seres tão surreais, há o consenso de que o que a maioria esmagadora das pessoas acredita não é ridículo. Se milhões são ridículos, logo, ninguém é ridículo, pois ridículo é não seguir a maioria. 

Em tempos de distopia, a adesão religiosa parece ser a melhor solução para muitos. E mesmo que não funcione, sempre vai haver uma desculpa para que a religiosidade nunca seja questionada. Afinal, até por exigir menos esforço e parecer mais comovente e "suprema", a fé é mais importante que a razão. Pois ela sempre deixa questões abertas que nos fazem acreditar que tudo será resolvido futuramente, pois mais procrastinador que seja.

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